S A U D A D E S
"Saudades" é um projeto multimídia sobre luto e relações familiares. No final de agosto de 2020, Edvaldo Cunha, meu avô, faleceu por complicações da Covid-19. Era o primeiro pico da pandemia no Brasil e foi quando decidi voltar para minha cidade natal, Mossoró, nordeste Brasileiro, e viver o luto com quem estava enlutado também. “Saudades” é um mergulho nas memórias da minha família, é uma forma de entender como elas fazem parte de quem somos e como podem nos guiar em um caminho de transformação.
"Minha neta", essas foram as primeiras palavras que o Socorro me falou quando nos conhecemos em setembro de 2020. Era noite, a TV com o volume no máximo me lembrava dele, o quarto estava escuro, mas mesmo assim consegui ver o dele cadeira. Sua ausência ocupava todos os cômodos, ele estava em toda parte.
Somos constantemente lembrados do vazio e sempre parece diferente. Outro dia minha avó me disse que via o luto como uma jornada de autoconhecimento, de redescoberta, de renascimento.
No dia que meu avô morreu, era um dia frio e chuvoso no Rio de Janeiro. Ele estava na UTI há 21 dias, sabíamos que as chances de sobrevivência estavam diminuindo, mas ainda estávamos esperando um milagre. No final da tarde, vejo um arco-íris se formando bem na frente da minha janela, penso no meu avô. Minutos depois, recebi a notícia de sua morte.
Apesar da dor que senti naquele dia, minha memória é a da delicadeza do arco-íris em minha janela. Como o pássaro azul, meu avô também encontrou sua liberdade.
